Queria ter vivido nos anos sessenta…
Queria ter visto as cores daquela época.
Queria ter vivido o verão dos sonhos, ter visto Jimi queimar sua guitarra em Monterrey.
Haight – Ashbury, com portal dimensional para a Ipiranga – São João. As kombis coloridas e as experiências com ácidos. O frenesi social!
As luzes do mundo eram candeeiros que iluminavam o caminho dos tortos musicais, daqueles que estavam aterrorizados pela camisa-de-força do serviço militar, da única nota das metralhadoras ecoando pelo sudeste asiático.
Onde a luz encontrava resposta dentro de corações jovens, ávidos pelo novo. Pelo dizer a seus penteados engomados e seus fraques: “ei! Eu sou um ser humano…”
O ié-ié-ié dava espaço para que os penteados se fizessem bagunçar. Mas era uma bagunça organizada. Havia uma ordem naquela desordem.
O eixo do mundo havia se movido. O eixo do mundo da música e da contracultura havia se movido. E os tabloides cinzentos e de papel mofado também perceberam isso. Cada qual deles escolheu o que dizer sobre tal impacto cósmico.
Era de aquarius??? O Armaggedon social??? A vinda da tríade maldita???
Quem disse que eles eram maiores que Cristo??? O tinhoso????
Camisas vermelhas pipocavam no terceiro mundo, com ideias consideradas perigosas para uma sociedade que olhava pro seu próprio umbigo.
Paris, maio de sessenta e oito: a vida é feita de som e fúria… E o mundo social virou de cabeça pra baixo.
Os ácidos tornaram-se mais corrosivos. Agora queimavam a fogo. Destruíram tudo aquilo que passou no seu caminho.
Morrison,
Joplin,
Hendrix.
Vozes de uma geração, mensageiros pagãos da modernidade, resquícios da sociedade, postos à beira do muro.
As grandes vozes secas calaram o povo nas ruas… Chamaram os herdeiros da guarda imperial romana.
E o silêncio se fez.
Sobrou apenas feridos pela calçada, alguns dopados, muitos mortos e outros irritados.
A generosidade dos tempos se acabara tão rápida quanto à ignição de um galão de gasolina. O galão que se tornou a chama de louvor dos senhores magnânimos dos ternos de cortes finos, proprietários das refinarias e insensíveis com os demais.
…
O silêncio? Se fora rompido? Não tão mais intensamente quanto àquela época… Talvez jamais seja.
Ele se internalizou, e o estopim dele fica no psíquico individual, amainado imediatamente pelas forças ocultas da estabilização do eixo global.
O eixo, que irreversivelmente, fora deslocado nos anos sessenta… Ah, como queria ter vivido nos anos sessenta, e viver, não imaginar essa história.