Ana Carolina
Perfil
[Som Livre, coletânea]
Depois de tantos álbuns internacionais, achei por um momento que deveria ter algo nacional, mas não poderia ser simplesmente qualquer coisa, e sim, algo que tivesse um toque especial, que sempre surpreendesse a cada vez que ouvíssemos. Assim, após pensar num relativo, mas longo momento, cheguei à conclusão de uma turma de amigos de uma escola próxima ao meu curso do SENAI, e de um colega desta mesma instituição – grato à patota do Felipe, grande amigo – que Ana Carolina seria a eleita. Afinal, o vocal graúdo dela e o romantismo das suas letras – que, obviamente, compreenderia em língua nativa – já eram velhos conhecidos de minha parte, mas os argumentos destes estimados colegas foram cruciais para definir essa aquisição.
O período de tempo entre esta e a anterior foi de um mês, o qual me permitiu tomar uma atenção toda especial para esse material. E, embora estava redescobrindo o mundo e retornando à normalidade das situações – e a monotonia das mesmas – pude dedicar atenção especial a esta obra.
E, recentemente, no tempo presente, estou por permitir-me, com mais cautela e menos consumismo, tomar outras obras da música popular brasileira para audição. Nomes tão fortes no meu conceito quanto Ana: Lenine, Tom Zé, Marisa Monte, Seu Jorge, as bandas de Rock dos oitenta e noventa, Peninha, os tradicionais da MPB: nomes dos mais conceituados e menos lugares-comuns.
Setlist
- Garganta: o grito de protesto de uma amante da noite tem um toque de envolvência. A mundanidade nunca foi tão efervescente a ponto de ser enobrecida como quanto nessa canção.
- Tô Saindo: mais um grito de protesto. Um ode ao valorizar da vida, do reerguer-se. O toque cadenciado traz concordância à letra, combinando muito bem com ela.
- Quem de Nós Dois (La Mia Storia Tra Le Dita): a versão romântica duma canção italiana… Uma quebra na cadência do up da coletânea, mas uma quebra suntuosa, de arrepiar os cabelos da nuca. O evitar de se apaixonar é impossível, assim como na canção.
- Ela É Bamba: uma exaltação às mulheres que fazem nosso país, num complexo jogo de palavras.
- Confesso: acordar de madrugada, e arrepender-se? O que passou, passou. E o romantismo fica.
- Encostar na Tua: por que todo álbum que possuo sempre costuma ter alguma coisa de acústico na melhor das ordens? Mesmo a simplicidade da poesia ganha potência sonora com o arranjo, e a saudade explode no refrão com propriedade, e mais ainda na ponte!
- Uma Louca Tempestade: uma das canções-símbolo do meu momento na época – o latente grito de liberdade, e a toada “seca” do violão.
- Nua: Toque suave, para elucidar a loucura de se afirmar.
- Pra Rua Me Levar: o anti-romantismo mais romântico que se possa ouvir. Uma contradição harmoniosa, e uma balada efusiva em todas as suas nuances.
- Elevador (Livro do Esquecimento): o princípio traz toda uma canção forte, que quer se afirmar, e decidir de uma vez por todas a que local quer chegar.
- Nada pra Mim: expurga-males, à moda brasileira – o amor perdido, simplesmente, perdido…
- Que se Danem os Nós: a mais suave de todas – e a contradição que se complementa, os “opostos que se distraem e os dispostos que se atraem”.
- O Avesso dos Ponteiros: uma homenagem ao tempo, esse implacável ente imutável.
Beatriz: a musa de Dante é mesmo uma realidade? Sim? Não? Que importa? Encerra a Odisséia musical em alta categoria musical.
Força áurea-verde
Um álbum carregado de sentimento.
e ½